Sequidão
Elevo os olhos ao monte;
Onde havia angicos, jatobás, ipês, jequitibás,
Agora só o amarelo opaco dos tocos de cana de milho
À espera das grades aradoras que virão revolvê-los
Para o plantio da safra vindoura.
De pé, vejo apenas a cruz de sucupira
Plantada ali por homens de fé,
Para que suas mulheres e filhas,
Entoando canções espirituais, levassem água ao seu pé,
Na esperança da vinda da chuva que encerra a seca.
Até água para as latas está faltando,
Antes colhida nos riachos ao fundo dos pastos,
Agora é retirada em poços profundos, dos aquíferos subterrâneos
A cada ano cresce mais a sequidão,
As águas de setembro chegam em final de outubro
São José não mais oferta suas enchentes,
Pivôs secam brejos, na bruta alternativa humana
Sequidão!
Sequidão de chuva, de córregos, rios e lagos,
Sequidão de fé.
A cruz está seca. Não há mais latas d’água em seu pé.